quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

The Kids Are All Right (2010)

Em tempos de discussão sobre os direitos dos homossexuais e de algumas vergonhosas demonstrações de violência e incompreensão, nada poderia ser mais bem vindo do que um filme como este. Um filme que não discute a discriminação e o preconceito e, na verdade, nem leva isso em consideração. The kids are all right (com o distante título Minhas mães e meu pai no Brasil) é uma bela produção, que faz com que situações estranhas pareçam absolutamente naturais e verdadeiras.

O filme conta a história de uma família que, à primeira vista, parece perfeita. Nic (Annete Benning) é o "pai" autoritário, que trabalha para pagar as contas, procura tomar conta de todos e comanda os filhos e a esposa com mãos de ferro. Jules (Julianne Moore) é a esposa insegura, sensível e meio louca. Os filhos são tratados como a representação das duas mães na forma de pensar e agir. Joni (Mia Wasikowska) também é sensível e ligeiramente reprimida e funciona como um espelho de Jules (o nome das duas também é bastante sugestivo). Laser (Josh Hutcherson) é bastante prático e desligado, com uma personalidade próxima da de Nic. Ele não parece incomodado por ser o único homem da família. Na verdade, ele não parece incomodado com nada.

Tudo está bem, até que Laser decide procurar seu pai biológico (o mesmo também de Joni). Seu primeiro encontro é tão natural, tão embaraçado e interessante, que eu seguramente definiria como a melhor cena do filme. Paul (Mark Ruffalo), o pai bonachão e cheio de si, é simpático e estranhamente atraente para todos, exceto Nic, que sente que ele está roubando sua família (o que acaba sendo parcialmente verdadeiro).

O filme fala, principalmente, sobre conflitos familiares, que são descobertos conforme Paul se envolve cada vez mais em suas vidas. Isso e a capacidade do amor de superar problemas e obstáculos. A unidade familiar é retratada como muito mais importante que qualquer elemento externo. É quase impossível não gostar de Paul, um cara sinceramente simpático e que inocentemente se envolve com cada membro da família. Mas no final, somos obrigados a reconhecer que eles são muito mais importantes para Paul do que Paul para eles. Paul é apenas um divertimento, uma pequena aventura, que todos não hesitam em abandonar.

Com momentos engraçados e dramáticos, este filme pode soar extremamente água com açúcar às vezes, mas de uma forma muito natural. É uma indicação certa para o Oscar e está entre as produções mais encantadoras do ano. Proporciona um entretenimento muito bom e traz uma mensagem positiva, embora não exatamente definida.

Eu, pessoalmente, recomendo que o filme seja assistido sem muitas expectativas em cima de uma história de homossexuais vencendo obstáculos. Se Nic fosse vivido por um homem, a diferença não seria tão grande para o roteiro. É nesse tratamento dado à história pela diretora Lisa Cholodenko (ela também homossexual), na verdade, que reside o poder da produção.

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Black Swan (2010)

O balé é uma forma de arte pouco difundida hoje em dia, principalmente no Brasil. Eu não conheço ninguém que já tenha ido assistir a um espetáculo de balé ou que tivesse interesse em ir. O mais novo filme de Darren Aronofsky, Black Swan, mostra o que estamos perdendo. A leveza de movimentos, a rapidez, a beleza plástica da dança. Só que o filme se preocupa muito mais com um outro aspecto pouco conhecido dessa arte. O lado negro do balé e da humanidade, que mostra ser muito mais instigante que qualquer outra coisa.

Nina (Natalie Portman) é uma bailarina que é escolhida pela primeira vez para viver a personagem mais importante em uma releitura do balé O Lago dos Cisnes. O problema é que sua aparente pureza e inocência são excelentes para interpretar o cisne branco, mas pouco ajudam na hora de encarnar o cisne negro do título. Em sua luta para alcançar a perfeição no espetáculo, ela procura se reconciliar com seu lado sombrio e acaba vivendo a história d'O Lago dos Cisnes na própria pele.

Os eventos do filme são fechados e íntimos, assim como os cenários e a protagonista Nina. Há uma cena em que ela entra pela primeira vez em contato com alguém que não tem nada a ver com balé, um rapaz que conhece na balada. Quando ele declara não gostar de balé e não conhecer O Lago dos Cisnes, Nina e sua companheira ficam indignadas. É compreensível. Isso é pura e simplesmente a vida delas.

Eu segui os distúrbios e problemas de Nina com bastante interesse e até acreditei neles até mais ou menos a metade do filme, quando a produção revela que aquilo que estamos vendo não é necessariamente a realidade, e sim a verdade da protagonista. A isso se seguem belas e fortes cenas de paranoica fantasia, que explodem em um clímax onde Nina alcança a perfeição como o cisne negro (mas a que preço!).

O universo do filme é estritamente feminino. As figuras masculinas (notadamente o instrutor de balé, vivido por Vincent Cassel) são invasoras, eróticas e atraentes, para compensar a palidez e o abatimento de Nina. Uma outra bailarina, Lily (Mila Kunis), também exerce um estranho fascínio sobre ela, o fascínio do proibido, do absurdo.

Nina é sexualmente reprimida não só por sua mãe rigorosa e superprotetora, mas principalmente por si mesma. Portman teve que aprender muitos passos de balé para este papel, mas sua principal contribuição é a profundidade emocional que dá para sua personagem dentro e fora das cenas de dança. O destaque vai para uma cena de masturbação em seu quarto, em que ela se revolve na cama, gemendo e liberando seus instintos sexuais aprisionados não se sabe há quanto tempo. Ela faz isso porque seu instrutor mandou que fizesse, por sua incontrolável submissão e, ao mesmo tempo, pelo seu desejo de ser perfeita.

Por um momento, eu achei que não saber quais os problemas sofridos por Nina seria um empecilho para o filme, mas o final demonstrou que eu estava errado. Apesar da falta de elementos explicativos em algumas partes da narrativa, a produção exala uma incrível atmosfera de completude e deslumbramento.

Este não é um grande filme. É um filme muito bom. A diferença é pequena e reside em ínfimos detalhes. Eu não consigo imaginar, por exemplo, que ele será lembrado daqui a alguns anos. Assisti-lo é uma experiência diferente e às vezes chocante. Mas faltam elementos que fazem d'A Rede Social, por exemplo, um grande filme. É difícil explicar, mas, quando você assiste as duas produções, se torna fácil entender. Black Swan está muito mais próximo de uma obra de arte que qualquer outro filme lançado este ano, mas, ainda assim, não é uma obra perfeita em si mesma.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A Origem (2010)

O que dizer de A Origem? Um dos filmes mais controversos do ano, a produção ganhou status de altamente complexa e labiríntica. Na verdade, tem um pouco dos dois, embora sua complexidade seja discutível, já que o diretor Christopher Nolan consegue explicar a maioria dos acontecimentos de forma satisfatória. O problema, portanto, não está no esquema muito bem elaborado que circula em torno da invasão de sonhos, e sim na dificuldade completamente proposital imposta por eventos que acontecem fora da própria lógica do filme. Certo, até  esta crítica está ficando um tanto complicada, por isso vou tentar explicar de forma simples.

Nas primeiras cenas, o filme mostra toda a ação, mas não explica exatamente o que está acontecendo, deixando que a descoberta, pelo menos para nós, aconteça depois. Esse é um dos motivos pelos quais o filme deve ser visto mais de uma vez (só estou me arriscando a escrever esta crítica depois da segunda). Depois, conforme a equipe de Cobb (Leonardo DiCaprio, em uma interpretação muito próxima da que teve em A Ilha do Medo) monta uma estratégia para invadir a mente de um multimilionário, começamos a ter contato com as regras do jogo. Aqui, apesar das óbvias dificuldades da explicação, passamos a ter uma boa ideia de como os invasores de sonhos trabalham. Só que, desta vez, ao invés de roubar projetos e ideias guardados dentro da mente da vítima, a equipe tem que plantar a resolução de abrir mão de um riquíssimo império empresarial. E isso é mais difícil porque: 1) As ideias podem florescer de diversas formas diferentes, 2) A pessoa não pode saber que o pensamento não partiu dela mesma, 3) A ideia fundamental deve ser inserida em um nível profundo dos sonhos, para que fique bem enraizada. Essas dificuldades são contornadas até que facilmente pela equipe, que parece uma espécie de Dream Team (neste caso, literalmente a equipe dos sonhos).

Nolan dá conta da ação através do mecanismo de defesa de Robert Fischer (Cillian Murphy, a vítima da invasão), para o qual seu cérebro foi treinado. Basicamente, um bando de oficiais que atiram muito mal e só aparecem para justificar as cenas de ação e aumentar a sensação de fatalidade de toda a missão.

Só assistindo pela segunda vez percebi o que me incomodou realmente no filme. Apesar da trama parecer bem amarrada, muitas coisas permanecem inexplicadas e, o que é pior, algumas vão contra as explicações dadas no começo. Na realidade, o próprio final dúbio depende dessas controvérsias. A produção provavelmente foi feita já antevendo as dicussões acerca disso tudo.

O que me incomodou é que o filme parte de uma explicação extremamente racionalizada para o funcionamento dos sonhos (como na maioria dos filmes de Nolan, na verdade) e, no final, parece depender muito de abstrações que não existiam nem hipoteticamente. O grande problema com a cena final é que qualquer das duas explicações que o filme parece apresentar (ou ele voltou à realidade ou continua preso em um eterno sonho-final feliz) são igualmente inverossímeis. Ele não pode ter realmente voltado ao mundo real porque, primeiro, eles não conseguiriam acordar quando quisessem, pois isso depende de um forte narcótico, que dura por algumas horas. E outra, Saito (Ken Watanabe, o empresário que os contratou para o serviço) só conseguiria voltar ao mundo real em um estado de total alienação, pois passara o tempo equivalente a muitos e muitos anos no limbo (um tempo quase infinito, como havia sido citado). E quem conseguiria explicar por que Cobb ainda está jovem enquanto Saito está velho e caquético? O empresário só morreu depois que Cobb foi para o limbo.

A teoria de que ele continuava sonhando também tem suas limitações. O limbo é a camada mais profunda do sonho (aqui, claro, utilizando-se da lógica do filme) e Cobb demorou anos para construir todo aquele local imaginário. Como, então, ele teria entrado em um outro sonho?

Creio que a única explicação plausível é que ele tenha imaginado tudo a partir do momento em que é encontrado na praia por um dos seguranças de Saito. Por acaso alguém sabe como ele chegou ali? Acredito que esse fosse um indício de que tudo o que aconteceria dali pra frente seria um sonho. Portanto, a conversa com Saito, seu retorno, o reencontro com os filhos seriam todos uma forma de sua mente lhe providenciar um final feliz. Aquilo se tornou seu limbo, assim como havia sido um paraíso por um tempo para ele e Mal (Marion Cotillard, sua esposa).

Por si só, um filme que nos faz pensar e tecer teorias sobre seu conteúdo já deve ser considerado como um bom filme. A Origem é um ótimo filme porque alia isso a boas interpretações do elenco e a imagens e efeitos visuais fascinantes. O problema é que talvez Nolan tenha se perdido em meio a toda a lógica maluca da produção. Ou não. Talvez só ele tenha o mapa desse labirinto. De qualquer forma, acho que é algo que nunca descobriremos.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O Oscar e a Hollywood de baixo orçamento

Catalogar coisas entre melhores e piores não costuma ser uma boa ideia em nenhuma área. A trajetória do Oscar é um bom exemplo disso. É só dar uma olhada na lista de filmes que hoje são considerados clássicos obrigatórios, mas que perderam para outras produções, digamos, não tão geniais. O exemplo que logo salta aos olhos é o caso de Cidadão Kane. Hoje presente no topo de quase todas as listas de críticos e aficionados por cinema, no distante ano de 1942 perdeu a estatueta de melhor filme para Como era verde verde meu vale. E não digo que seja um filme ruim (porque realmente não é), mas o tempo se encarregou de comprovar que não era o melhor do ano.

Esse, infelizmente, não é um caso isolado. Se avançarmos algumas décadas no tempo, veremos o vencedor do Oscar de Melhor Filme de 1982, Gente como a gente. Um drama sombrio sobre uma família de subúrbio que desmorona após a morte de um dos filhos. Também um ótimo filme. Mas que méritos possui se o compararmos com o perdedor desse mesmo ano, o aclamado Touro Indomável? Também devemos considerar que um grande filme pode passar despercebido por muitos anos antes que todas as suas qualidades sejam apreciadas. Um caso notável é A felicidade não se compra, que só caiu nas graças do público através de reprises durante a época de Natal, tornando-se um dos grandes clássicos da história do cinema.

Qualquer tipo de categorização que envolva julgamentos pessoais sobre o que é ruim e o que é bom deve ser vista com desconfiança.  No entanto, hoje em dia, o papel do Oscar é muito mais importante e vital do que pode parecer à primeira vista. Em tempos de superproduções e de uma Hollywood dominante e dominada por efeitos especiais, óculos 3-D e uma indústria de entretenimento de massa, a premiação se tornou um dos últimos estandartes de filmes de menor orçamento, com roteiros mais elaborados e menos apelação para os aspectos visuais. O Oscar é o principal incentivo para esse tipo de filme. Não é à toa que Avatar, a produção mais cara de todos os tempos, perdeu a estatueta para Guerra ao Terror (um filme, a meu ver, mediano, mas enfim...), um filme de baixo orçamento lançado direto para DVD no Brasil. Devo dizer que, apesar de não aprovar a escolha, entendo sua motivação.

Se não fosse por esse tipo de incentivo, não consigo imaginar a maioria das pessoas indo ao cinema ou alugando filmes que não fossem do naipe de Transformers ou Avatar. E, nesse caso, seria possível prever a morte desse tipo de produção e, com ela, do cinema como um todo. Um outro fator positivo da premiação é que ela ajudou a criar um novo tipo de filme: a superprodução de qualidade. É o caso, por exemplo, de Batman: O cavaleiro das trevas e A Origem, de Christopher Nolan, já praticamente um expert no gênero. Os filmes com histórias mais elaboradas atingiram até mesmo o terreno da ficção científica, como aconteceu em Distrito 9, de Peter Jackson.

Os Oscar, apesar de todos os seus problemas, acabam acertando na maioria das vezes. Os três filmes que costumam se revezar nos primeiros lugares de listas cinematográficas, Casablanca, O Poderoso Chefão e E o vento levou, ganharam cada um seu prêmio de melhor filme. Por isso, o jeito mesmo é cruzar os dedos e esperar que o júri cumpra seu papel e eleja, se não a melhor produção, pelo menos uma das melhores. O Oscar não pode e não vai morrer, como mais importante premiação do cinema que ele é. Nós estaremos confortavelmente sentados e atentos, com ou sem óculos 3-D. Que cada um faça sua lista de melhores do ano e critique ou elogie o prêmio. Só não se esqueça da pipoca.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A Rede Social (2010)

O badalado A Rede Social, de David Fincher, começa com um diálogo entre Mark Zuckerberg (o criador do Facebook) e sua então namorada. É bem possível que a maior parte da conversa soe incompreensível para a grande maioria do público. Mark fala de forma extremamente rápida e salta sem aviso de um assunto para o outro. Mesmo sua namorada não faz ideia do que ele está falando. Entretanto, isso não importa, pois a conversa estabelece três pontos cruciais para a história: a) Zuckerberg é um gênio que gabaritou o teste para entrar na universidade, b) Ele não tem experiência alguma com namoros ou relações pessoais de todos os tipos e se mostra extremamente egocêntrico e c) É muito sensível quanto ao seu status de nerd e tem problemas com mulheres devido a ele. Não me lembro de outra vez em que a chave de um filme estivesse tão flagrantemente em sua primeira cena.


Também é bom lembrar que o filme não lida com o Zuckerberg da vida real. Ele trabalha com um livro sobre o criador do Facebook e, por isso, é praticamente uma adaptação de uma adaptação. O próprio Mark revelou algumas discrepâncias fundamentais para o roteiro, como o fato de ele ter tido uma namorada fixa durante todo o período de construção do site.

O filme é contado de forma rápida e também muitas vezes incompreensível, mas, assim como na primeira cena, nós entendemos aquilo que precisamos entender. Poderia se dizer que é quase tão dinâmico e intuitivo quanto a própria internet. Se logo no começo temos a explicação de praticamente tudo o que está para acontecer, no fim, temos uma síntese de todo o filme em apenas duas frases. Não, Mark não é um babaca. Nós podemos ver seu sofrimento com o isolamento e a incompreensão em relação aos outros. Mas Mark faz de ser um babaca seu principal objetivo na vida. E, de forma ainda mais interessante, ele parece querer provar que é um cara legal sendo cada vez mais babaca.

Ele não quer dinheiro, mas espera conseguir respeito por ser famoso e por ter criado algo em que ninguém jamais havia pensado antes. Apesar das inconsistências de seu caráter, é um personagem com quem é fácil se identificar e seus conflitos internos são extremamente humanos e palpáveis.

A narrativa se divide entre reuniões dos processos movidos contra Mark (por colegas de Harvard que, direta ou indiretamente, o ajudaram a ter a ideia do Facebook e a realizá-la) e suas lembranças dos acontecimentos que o levaram até ali. Apesar de ser um recurso bastante utilizado no cinema, dificilmente acontece com este grau de completude, em que o passado acrescenta tanto para o presente quanto o presente adiciona ao passado.

De forma estranha, a cena mais interessante e autoral do filme não tem nada a ver com a internet (pelo menos não diretamente). Fincher conseguiu transformar uma corrida de remos, algo essencialmente maçante, em um esporte dinâmico e veloz, através de cortes rápidos de cena e (pasmem) música clássica. Nesse momento, mais do que em todo o restante do filme, Fincher demonstra a sua habilidade como diretor.

Seu estilo já havia sido testado em produções anteriores notórias, entre elas Clube da Luta e Se7en. Porém, somente em A Rede Social ele consegue incorporar totalmente sua direção rápida e abrupta com um filme de grande qualidade e, por que não dizer, também altamente dramático.

Conhecido por finais surpreendentes, Fincher aqui consegue surpreender o telespectador com algo que ele muito possivelmente já sabia. Nada de reviravoltas como em Clube da Luta. Todo o filme, assim como a ascensão de Mark, é construído com base em uma ideia principal, que se desenrola pouco a pouco em seu decorrer: Qual a motivação para ele fazer tudo aquilo. Não é por dinheiro, ele também não quer fazer amigos, não quer transar e não quer ser reconhecido como um gênio. Afinal, que diabos ele deseja? É isso que, ao final da produção, todos já têm ideia e a última cena confirma de forma genial.

Trata-se de um filme inteligente, com uma produção impecável, bela fotografia e apoiado em ótimas atuações do jovem elenco. As cenas são conduzidas de forma diversificada e bastante fora do usual. Não peca por favorecer demais uma característica só (como A Origem, um filme esperto demais para seu próprio bem). Enfim, uma produção moderna  em todo o sentido da palavra e digna do Oscar de melhor filme de 2010, o que, se depender da reação dos críticos, tem grandes chances de acontecer.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Os 10 filmes mais assustadores de todos os tempos (2ª Parte)

5- O Chamado (2002)
A fita de vídeo que mata em uma semana quem assiste já entrou para o imaginário popular, assim como a vilã Samara, pálida e de cabelos escorridos, que escapa da TV para assassinar sua vítima pessoalmente. O filme foi um dos primeiros remakes com base em um filme de terror japonês, e que abriu mercado para outras regravações, como O Grito e O Olho do Mal. A base do terror do filme gira em torno do fantasma de Samara, que volta para assassinar todos os que assistirem a um filme feito por ela. Conforme sua história passa a ser contada, percebemos que a menina Samara podia ser ainda muito mais assustadora viva do que morta. A produção conta ainda com um falso final feliz, que acaba sendo revertido para mais mortes macabras e sem sentido, que o fã tanto adora. Sucesso de público quando lançado, o filme teve uma sequência de pior qualidade, que obteve, consequentemente, menos sucesso.

4- O Sexto Sentido (1999)
O cultuado filme de M. Night Shyamalan tem também uma das maiores surpresas encontradas em filmes de terror. Ao mesmo tempo em que nos assustamos com os fantasmas vizualizados pelo excelente Halley Joel Osment, o filme nos prepara para a sua surpresa final, que assusta e espanta muito mais do que meros monstros e mortes macabras. A essência do filme está no proposital déficit de atenção que sofremos ao longo da produção, que torna a revelação final ainda mais surpreendente. Shyamalan parece ter usado toda a sua capacidade de direção neste filme, pois sua produção foi indo de mal a pior com o passar dos anos. Mesmo assim, ele ainda foi capaz de deixar para a posteridade um dos melhores filmes de suspense de todos os tempos e com um dos desfechos mais ultrajantes.

3- Poltergeist (1982)
Poltergeist é um dos melhores filmes de terror de todos os tempos por conseguir causar um terror profundo, mesmo com efeitos especiais rísiveis para o padrão atual. Escrito e produzido por Steven Spielberg e com direção de Tobe Hooper, o filme assusta com a sua narrativa de uma casa dominada por forças malignas, que cada vez dão mais mostras de seu potencial destruidor. Entre os exemplos de cenas absolutamente terríveis, estão a da filha da família sendo engolida pela TV e a de um dos profissionais contratados para espantar os espíritos, quando toda a pele de seu rosto começa a desmanchar, deixando o crânio de fora. Apesar de não possuir um roteiro tão consistente, a direção do filme é capaz de montar uma cena mais horripilante do que a outra. Inclusive, desconfia-se de que havia um dedo de Spielberg também na direção, devido à genialidade do material. Este é um filme para quem tem nervos de aço e é altamente recomendável que não seja assistido a sós.

2- REC (2007)
REC é um filme recente espanhol e que, à primeira vista, pode se parecer com muitos outros. Uma mistura de A Bruxa de Blair com A Madrugada dos Mortos, o filme conta a história de uma equipe de reportagem que fica presa em um prédio, assim como todos os seus moradores, onde se alastra um vírus capaz de transformar as pessoas em zumbis comedores de carne humana. Apesar das visíveis limitações do roteiro, o filme é um susto constante, conforme zumbis pulam em frente à câmera, acompanhando a gravação da equipe, que busca, assim como todos os outros, sobreviver em meio a toda a situação. Mesmo assim, a pior cena da produção é deixada para o final, quando encontramos no sótão a verdadeira raiz por detrás de toda a epidemia: uma desfigurada, cadavérica e horrível menina Maria, que acaba matando toda a equipe. Se você procura pura e simplesmente terror, esta é uma boa pedida. Já se você está em busca de um roteiro mais elaborado, assista a outros filmes da lista.

1- O Exorcista (1973)
O Exorcista pode ser considerado o melhor filme de terror de todos os tempos por diversos motivos. Foi o filme que demonstrou que o gênero do terror é válido e capaz de concorrer a premiações importantes; trata da Igreja Católica, muitas vezes um tabu para filmes do gênero; faz a transformação de uma inocente garotinha em um demônio horroroso e depravado; tem algumas das cenas mais icônicas e imitadas da história do cinema; pode ser visto como uma alegoria para nossa própria incapacidade de lidar com a adolescência de nossos filhos; entre outros. O fato é que, desde sua estreia, O Exorcista foi sempre aclamado como o mais assustador filme de terror de todos os tempos. Desde mortes e acidentes associados à sua produção a relatos de desmaios durantes sua exibição, o filme é permeado de lendas e histórias que asseguram seu primeiro lugar disparado entre os filmes que mais trazem medo ao imaginário popular. De fato, de toda esta lista, em matéria de terror nenhum outro filme é sequer comparável aO Exorcista, grande obra-prima do gênero.

Os 10 filmes mais assustadores de todos os tempos (1ª Parte)

Pesadelos, paisagens infernais, pactos com o demônio. Não só disso vive o gênero de terror no cinema. Aliás, muitos filmes que nem pertencem ao gênero acabam se tornando muito mais assustadores. Por isso, resolvi fazer uma lista dos 10 filmes que mais me aterrorizaram e povoaram meus sonhos à noite, podendo ser de terror ou não.

10- Nosferatu: Uma Sinfonia de Horrores (1922)

Sim, pode parecer estranho um filme da década de 20 figurar entre os mais aterrorizantes de todos os tempos. Mas quem assistiu este precursor dos filmes de vampiros sabe do que eu estou falando. Apesar dos efeitos pra lá de ultrapassados e da narrativa lenta, a caracterização de Max Schreck como o maquiavélico chupador de sangue Nosferatu é uma das melhores e mais icônicas da história do cinema. Claramente baseado no Drácula de Bram Stoker, o filme conta a história de Hutter, que vai ao castelo de conde Orlock para lhe vender uma casa. No entanto, sua estadia começa a ficar desconfortável quando ele descobre marcas de mordida no pescoço e percebe que o conde passa os dias dormindo em um caixão. Uma narrativa clássica, que ajudou a imortalizar o mito do vampiro, o filme traz cenas de um terror arrepiante, como aquelas em que o conde Orlock persegue suas vítimas transformado apenas em uma sombra. Há ainda uma versão do filme atualizada por Werner Herzog, que também vale a pena conferir.

9- O Iluminado (1980)
Esta medonha narrativa, retirada por Stanley Kubrick do livro homônimo de Stephen King, pode não parecer um filme realmente assustador à primeira vista, mas faz um retrato tão psicótico e doentio da loucura que merece figurar na lista de filmes mais assustadores de todos os tempos. Jack Torrance leva a família para passar todo o inverno sozinhos tomando conta de um hotel. O problema é que acontecimentos passados de assassinato e terror permeiam a atmosfera do lugar, mexendo com a cabeça de Jack cada vez mais, até transformá-lo em um maníaco, pronto para matar filho e esposa a golpes de machado. Apesar do assunto macabro, o filme consegue mesclar cenas agradáveis a imagens de puro terror, como a das duas crianças assassinadas em meio a um rio de sangue. Kubrick, um diretor capaz de retratar a loucura como nenhum outro, consegue criar uma verdadeira obra de arte, em parceria com o inigualável Jack Nicholson no papel de Torrance. Este é um filme onde o terror não vem de monstros, mas da própria mente de um indivíduo perturbado.

8- Jogos Mortais (2004)
Inicialmente concebido como uma produção independente, o filme logo ganhou fama e se tornou uma das franquias cinematográficas mais doentias e de maior sucesso da década. Jigsaw é um serial killer que mata suas vítimas através de experimentos sádicos, verdadeiros testes de paciência e perseverança. O horror neste filme vem de pessoas condenadas aos piores suplícios imagináveis para testar suas capacidades de sobrevivência e de luta para permanecer vivos. Os primeiros dois filmes da série conseguiram ainda manter um nível aceitável de genialidade e mortes horripilantes, mas tudo começou a degringolar a partir da terceira produção. Agora, trata-se apenas de mais uma série cinematográfica essencialmente sem graça, que já caminha para o sétimo filme. Uma produção que antes se firmava em um bom roteiro é agora apenas sangue e mortes horríveis, que promete ultrapassar Em Busca do Vale Encantado em número de sequências.

7- Halloween (1978)
A trama de Halloween, que hoje pode parecer batida para os apreciadores de filmes de terror, foi na realidade uma das primeiras a trazer um grupo de jovens perseguidos por um serial killer impiedoso. O filme traz grande parte dos clichês que depois seriam explorados em filmes como Pânico e Eu sei o que vocês fizeram no verão passado. O assassino mascarado e aparentemente imortal, a menina ingênua e pura que consegue escapar, um bando de adolescentes sem importância que serão facilmente mortos pelo assassino, etc. Michael Myers é um indivíduo com distúrbios mentais desde criança, época em que mata a irmã a facadas, cena que acompanhamos integralmente pelo ponto de vista de Michael. Muitos anos depois, ele retorna à cidade com o intuito de matar o máximo de pessoas que conseguir. A produção, é claro, traz muitas cenas de morte assustadoras e perseguições de tirar o fôlego.

6- A Bruxa de Blair (1999)
A Bruxa de Blair é um dos filmes que consegue aproveitar com maior eficiência efeitos baratos, barulhos e gritaria para causar medo na mente das pessoas. Gravada de forma no mínimo peculiar, a produção tem o formato de um falso documentário amador, protagonizado por um trio de jovens. O documentário trata de uma lenda local, a bruxa de Blair, e se passa na floresta onde ela supostamente habita. O problema é que os jovens não têm muita experiência e logo se perdem na mata, onde ficam à mercê da malfadada bruxa. Sem que seja mostrado nenhum monstro e nenhuma cena de morte ou violência, o filme é bem sucedido em causar suspense e terror no espectador, à medida que acontecimentos cada vez mais macabros se acercam do trio de jovens. Só um aviso: não assista este filme à noite. As cenas noturnas são muito mais horripilantes e têm grandes chances de causar pesadelos.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Os 100 melhores filmes que eu já vi

Todo mundo adora fazer listas. Eu não sou muito diferente. Por isso, resolvi fazer a lista dos 100 melhores filmes que assisti. É claro, a lista é sujeita a mudanças e tudo mais, mas foi o melhor que consegui fazer. Em breve, pretendo fazer uma lista mais detalhada e subdividir os gêneros de filmes.

1- E o Vento Levou (Gone With the Wind) (1939)

2- O Poderoso Chefão (The Godfather) (1972)

3- Um Estranho no Ninho (One Flew Over the Cuckoo’s Nest) (1975)

4- Casablanca (1942)

5- Crepúsculo dos Deuses (Sunset Boulevard) (1950)

6- Janela Indiscreta (Rear Window) (1954)

7- A Felicidade não se Compra (It’s a Wonderful Life) (1946)

8- Forrest Gump: O Contador de Histórias (Forrest Gump) (1994)

9- O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs) (1991)

10- A Lista de Schindler (Schindler’s List) (1993)

11- Cantando na Chuva (Singin’ in the Rain) (1952)

12- Taxi Driver (1976)

13- Apocalypse Now (1979)

14- Um Corpo Que Cai (Vertigo) (1958)

15- A Mulher Faz o Homem (Mr. Smith Goes to Washington) (1939)

16- Branca de Neve e os Sete Anões (Snow White and the Seven Dwarves) (1937)

17- Os Bons Companheiros (Goodfellas) (1990)

18- Laranja Mecânica (A Clockwork Orange) (1971)

19- Tempos Modernos (Modern Times) (1936)

20- Os Infiltrados (The Departed) (2006)

21- O Sexto Sentido (The Sixth Sense) (1999)

22- Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption) (1994)

23- Dr. Fantástico ou Como Aprendi a Parar de Me Preocupar e Amar a Bomba (Dr. Strangelove Or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb) (1964)

24- Cidadão Kane (Citizen Kane) (1941)

25- O Mágico de Oz (The Wizard of Oz) (1939)

26- E.T.: O Extraterrestre (E.T.: The Extra-Terrestrial) (1982)

27- Guerra nas Estrelas (Star Wars) (1977)

28- Cinema Paradiso (Nuovo Cinema Paradiso) (1988)

29- O Iluminado (The Shining) (1980)

30- O Grande Ditador (The Great Dictator) (1940)

31- O Poderoso Chefão 2 (The Godfather: Part II) (1974)

32- Psicose (Psycho) (1960)

33- Se Meu Apartamento Falasse (The Apartment) (1960)

34-As Vinhas da Ira (The Grapes of Wrath) (1940)

35- Nosferatu, uma Sinfonia do Terror (Nosferatu, Eine Symphonie) (1922)

36- Sindicato de Ladrões (On the Waterfront) (1954)

37- O Senhor dos Anéis (The Lord of the Rings) (2001, 2002 and 2003)

38- Doze Homens e uma Sentença (12 Angry Men) (1957)

39- Farrapo Humano (The Lost Weekend) (1945)

40- O Rei Leão (The Lion King) (1994)

41- Amadeus (1984)

42- Na Natureza Selvagem (Into the Wild) (2007)

43- Conduzindo Miss Daisy (Driving Miss Daisy) (1989)

44- Melhor é Impossível (As Good As It Gets) (1997)

45- Beleza Americana (American Beauty) (1999)

46- Como Era Verde Meu Vale (How Green Was My Valley) (1941)

47- Cabaret (1972)

48- Seven: Os Sete Crimes Capitais (Se7en) (1995)

49- O Picolino (Top Hat) (1935)

50- Toy Story (1995)

51- O Exorcista (The Exorcist) (1973)

52- Matar ou Morrer (High Noon) (1952)

53- Quanto Mais Quente Melhor (Some Like it Hot) (1959)

54- Assim Caminha a Humanidade (Giant) (1956)

55- Butch Cassidy (Butch Cassidy and the Sundance Kid) (1969)

56- Bonnie e Clyde: Uma Rajada de Balas (Bonnie and Clyde) (1967)

57- O Sétimo Selo (Det Sjunde Inseglet) (1957)

58- Metrópolis (Metropolis) (1927)

59- O Sol é Para Todos (To Kill a Mockingbird) (1962)

60- A Malvada (All About Eve) (1950)

61- Amor Sublime Amor (West Side Story) (1961)

62- Dança com Lobos (Dances with Wolves) (1990)

63- Meu Ódio Será Tua Herança (The Wild Bunch) (1969)

64- Todos os Homens do Presidente (All the President’s Men) (1976)

65- Grease: Nos Tempos da Brilhantina (Grease) (1978)

66- Moulin Rouge: Amor em Vermelho (Moulin Rouge!) (2001)

67- Ran (1985)

68- Os Suspeitos (The Usual Suspects) (1995)

69- Entrando numa Fria (Meet the Parents) (2000)

70- O Planeta dos Macacos (Planet of the Apes) (1968)

71- Batman- O Cavaleiro das Trevas (Batman- The Dark Knight) (2008)

72- Golpe de Mestre (The Sting) (1973)

73- Em Busca do Ouro (The Gold Rush) (1925)

74- A Montanha dos Sete Abutres (The Big Carnival) (1951)

75- Festim Diabólico (Rope) (1948)

76- Minha Bela Dama (My Fair Lady) (1964)

77- O Ladrão de Bicicletas (Ladri di Biciclette) (1948)

78- O Rei da Comédia (The King of Comedy) (1983)

79- Desejo e Reparação (Atonement) (2007)

80- Poltergeist (1982)

81- 2001, Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odyssey) (1968)

82- Anatomia de um Crime (Anatomy of a Murder) (1959)

83- A Ponte do Rio Kwai (The Bridge on the River Kwai) (1957)

84- Alma em Suplício (Mildred Pierce) (1945)

85- Clube da Luta (Fight Club) (1999)

86- Trainspotting (1996)

87- A Vida é Bela (La Vitta è Bella) (1997)

88- Réquiem para um Sonho (Requiem for a Dream) (2000)

89- Scarface (1983)

90- Ensina-me a Viver (Harold and Maude) (1971)

91- Intriga Internacional (North By Northwest) (1959)

92- Perfume de Mulher (Scent of a Woman) (1992)

93- O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final (Terminator 2: Judgment Day) (1991)

94- O Homem Que Matou o Facínora (The Man Who Shot Liberty Valance) (1962)

95- Pinóquio (Pinocchio) (1940)

96- Feitiço do Tempo (Groundhog Day) (1993)

97- Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall) (1977)

98- Uma Rua Chamada Pecado (A Streetcar Named Desire) (1951)

99- O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (Le Fabuleux Destin D’Amélie Poulain) (2001)

100- Faça a Coisa Certa (Do the Right Thing) (1989)

terça-feira, 13 de julho de 2010

Como era verde o meu vale (1941) - e era mesmo


John Ford é normalmente conhecido como um grande diretor de faroestes. Apesar disso, receu 4 Oscars de Melhor Direção durante a carreira, nenhum deles para um western. Isso mostra como o gênero era mal visto pelos críticos e jurados da Academia, apesar de possuir um grande apelo popular. Este é um dos filmes pelos quais Ford recebeu um Oscar e, apesar de não ser um de meus preferidos, mostra o talento que o diretor tinha para reconhecer as dificuldades e se identificar com a população menos favorecida. Esse talento foi melhor desenvolvido em As Vinhas da Ira, provavelmente a melhor produção do cineasta.
O filme mostra a infância de Huw Morgan, vista de quando ele tem 60 anos. A vida dele quando jovem parece um pouco feliz demais para nós, mas não achamos tudo perfeito quando lembramos da juventude? As pessoas eram boas, a natureza linda, e até mesmo o trabalho da família em uma mina de carvão lhes rendia um bom dinheiro e uma aconchegante casa para morar. O cenário é claramente montado e se parece mais com um sonho do que com algo real, embora isso se encaixe muito bem nas lembranças de Huw. E é aí que os elementos externos entram, para acabar com a paz e a felicidade de sua família. A diminuição do salário dos trabalhadores da mina acaba causando uma greve e também uma cisão entre o pai de Huw e seus irmãos. Huw e a mãe caem em um lago congelado e o garoto passa um ano na cama, sem poder andar. Sua irmã, Angharad, acaba se casando com o filho do dono da mina, apesar de amar claramente o senhor Gruffyd, o pastor e benfeitor local. Ao final, mortes, intrigas e a divisão familiar acabam tornando o gracioso vale de Huw apenas uma mera lembrança de algo que, segundo ele, viverá para sempre dentro de seu coração.
O filme é um drama no melhor estilo hollywoodiano. É feito para fazer chorar e, no final, consegue atingir seu objetivo. Ele traz uma magia que somente os filmes antigos possuíam: de contar uma bela história, sem medo de parecer piegas ou meloso demais. Tem aquela sensação que só as nossas lembranças da infância nos trazem, de que tudo era belo e maravilhoso, apesar de sermos apenas jovens. A bela produção merecia um Oscar da Academia, embora eu tenha minhas dúvidas de que merecesse desbancar o excepcional Cidadão Kane na competição, a obra-prima de Orson Welles. Enfim, é um belo drama, às vezes sentimental e certinho demais, mas vale a pena ser visto.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Clube da Luta (1999) - Se não estiver preparado, mantenha distância


O filme foi descrito como "um soco na mente" de quem o assiste. Não deixa de ser verdade. Mas é necessário que a pessoa se prepare mentalmente para ver este filme, pois ela pode não se sentir confortável com o que vai assistir. O filme não é basicamente sobre luta, como o título parece sugerir. É mais a história de um cidadão comum (Edward Norton) e desesperado que faz de tudo para se libertar do consumismo e superficialidade que comandam sua vida. E é aí que entra em cena Tyler Durden (Brad Pitt, o "companheiro de uma porção só"), um cara que parece ser o homem certo para virar sua vidinha de cabeça para baixo. Só que talvez ele seja certo demais para o trabalho. Ele queima a casa do companheiro (que, apesar de ser o principal personagem da história, não tem o nome citado) e o leva para viver em uma pocilga miserável, em condições totalmente contrárias às que ele havia experimentado até então. Para se livrar da superficialidade da sociedade, eles criam um Clube da Luta, onde pessoas comuns lutam entre si até não poderem mais. Mas o que ele não sabe é que Tyler parece estar montando seu próprio exército e tem um plano louco de alcances inimagináveis, para mudar os rumos da sociedade.
Com belas atuações de Norton e Pitt, o filme conta com uma reviravolta ultrajante no final, cenas sanguinolentas para embrulhar o estômago e diversas referências ao erotismo e à homossexualidade. Contado de maneira inteligente e única, é uma bela obra cinematográfica, assim como um retrato pessimista da sociedade de consumo. Embora contenha muita violência, ela é mais como uma metáfora para a libertação das amarras que nos cercam e para a verdadeira liberdade do indivíduo. Um contraponto é que o exército de Durden não possui liberdade intelectual alguma e só pensa aquilo que Tyler manda que pensem. Uma cena interessante, que chega a ser de humor negro, é o coro feito a Bob Paulsen, um companheiro morto, quando eles pensam que uma pessoa só possui um nome dentro do grupo após sua morte. É um filme imperdível e quanto mais vezes for assistido, melhor se torna. Com certeza deve figurar entre as melhores produções da década de 90.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Matar ou morrer (1952) *GiantSpoiler

Eu não sou um grande fã de faroestes. Sei que esse é um gênero de filmes que influenciou e maravilhou uma geração, mas, para mim, a maioria tem histórias repetidas e enfadonhas. No entanto, para minha surpresa, Matar ou morrer se mostrou o oposto disso. O filme se passa em tempo real e conta a história de Will Kane (Gary Cooper), um xerife que foi ameaçado de morte por um fora-da-lei que ele ajudou a prender. Enquanto no início do filme todos parecem respeitá-lo e adorá-lo, já que ele ajudou a manter a paz na pequena cidade onde vive, a história muda quando ele começa a pedir ajuda para deter o grupo de Frank Miller, que retorna para o ajuste de contas. Um por um, todos com quem ele esperava contar vão criando desculpas e fugindo da responsabilidade, até que no final ele se vê quase sozinho para enfrentar quatro dos bandidos. Sim, quase porque sua esposa decide apoiá-lo no último minuto em sua cruzada e consegue matar um dos malfeitores.
Grace Kelly está perfeita (e, diga-se de passagem, belíssima) no papel da esposa quacre, indefesa e indecisa de Kane. Na realidade, é difícil culpar os cidadãos da pacata cidade por não quererem arriscar as vidas em uma empreitada tão perigosa. É Kane que é extremamente cabeça dura e intransigente no cumprimento de algo que nem é o seu dever. Mesmo assim, não conseguimos nos impedir de sentir raiva e desapontamento no lugar de Kane, que é abandonado por todos em quem confiava. Por isso, nada mais justo que, após derrotar os inimigos praticamente sozinho, Kane jogue sua estrela de xerife no chão, mostrando seu desprezo por aqueles que ajudou, e saia para sempre da cidade com a esposa, a única que se manteve ao seu lado no final.
O filme tem muitos pontos fortes. Entre eles, uma bela canção, Do not forsake me, Oh my darling, que é a única companheira de Kane em sua solitária jornada. A música é repetida à exaustão, mas é impossível se cansar dela. A atuação de Gary Cooper, premiada com o Oscar, também é impecável e podemos notar o seu desespero crescendo à medida em que sua busca vai se revelando infrutífera. O clima de espera e suspense que reina na produção deixa a todos com os olhos grudados na tela. Depois de Butch Cassidy, este é o melhor faroeste que assisti até o momento. Recomendo a todos que gostam do gênero e procuram por um filme um pouco mais tenso.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Príncipe da Pérsia (2010) - ou da chatice?

Sexta-feira, fim de tarde, nada melhor do que pegar um cineminha, certo? Bom, errado se você cair na besteira de querer assistir Príncipé da Pérsia, novo filme de aventuras de Jerry Bruckheimer. Não que eu esperasse assistir uma obra de arte ou algo assim, as críticas e o próprio staff do filme, baseado em um popular jogo de video game, já haviam me desiludido. Não esperava sequer uma aventura emocionante e cheia de reviravoltas, como o Piratas do Caribe, também de Bruckheimer. Esperava apenas um filme mais ou menos, com algumas boas cenas de ação e que me distraísse um pouco. Mesmo esperando isso, saí profundamente decepcionado.
Em primeiro lugar, parabéns para Jake Gylenhaal por ter conseguido alguns músculos, mas sua interpretação é quase tão contundente quanto as de Reinaldo Gianecchini nas novelas das 8. Dito isso, a princesa por quem ele se apaixona é uma chata de galocha e acho que o príncipe só a perdoa porque ela é bonita (e também nem tanto). O filme é repleto de frases clichês, e dou 10 reais pra quem não descobriu que o cara mau da história era o tio careca e metrossexual deles (um Ben Kingsley cínico e de cara feia). Acho que o único personagem válido da história é o do fora-da-lei dono de avestruzes corredores, muito bem interpretado por Alfred Molina. Molina é para mim um grande ator que não foi reconhecido pela Academia. Ele desempenha seus papéis com uma naturalidade incrível, por mais absurdos que sejam. Este não é diferente. Ele serve também como um contraponto para toda a jornada dos outros personagens, já que se importa apenas com seu dinheiro e seus avestruzes e mostra como todo o roteiro da produção é ridículo.
Um ponto que esperei com ansiedade foi a fotografia do filme, que acabou se mantendo em um nível muito parecido com a de 300, embora fosse ligeiramente inferior. Os efeitos especiais, tão maravilhosamente desenvolvidos na série Piratas do Caribe, aqui parecem um tanto forçados e fora do lugar. Na realidade, me deu até vontade de rir quando Dastan (o dito príncipe) virou um balde de água fervente em cima de uns pobres soldados. Me fez lembrar de um momento parecido no Corcunda de Notre-Dame da Disney.
Enfim, esse é mais um filme da safra de grandes e caras produções de Hollywood, com aposta em efeitos especiais. Dessa vez, no entanto, o resultado não compensou. Até quando vão insistir em continuar fazendo filmes baseados em jogos de video game? Será que não perceberam que a fórmula não dá certo?

sexta-feira, 2 de julho de 2010

O Indomável (1962) - Uma moral invertida

Um filme aparentemente simples, à primeira vista, mostra ter mais significados ocultos do que se poderia imaginar. Hud é mostrado, inicialmente, como um malandro boa-praça, com um charme único e um jeitão mau-humorado. Isso fica claro na conversa que ele tem com a empregada da casa e com seu jeito descarado ao sair da casa de sua amante. Além disso, Hud parece ter uma rixa com o pai, que o trata de forma fria e distante. Inicialmente, a impressão que temos é de que Hud foi criado à sombra do irmão, que era o preferido do pai. Daí as suas falhas de caráter e o seu mau relacionamento com o velho.

Essa noção, no entanto, acaba se distorcendo quando percebemos que Hud foi o causador do acidente que matou o irmão e pensamos que isso foi a causa do distanciamento do pai. E, quando pensamos que tudo já está definido, este revela ao atordoado Hud que ele já o havia decepcionado muito antes disso. No final, temos um Hud que é capaz de estuprar a empregada, comprar o próprio sobrinho e enganar o pai para lhe tomar as terras. O interessante, no entanto, é que simpatizamos com ele. Não tanto porque gostamos do sujeito, mas porque percebemos que seu pai é dono de uma pieguice, uma retidão e severidade tão absurdos que não podemos sentir senão ódio e aversão pela sua figura. Ao final, o sobrinho de Hud ainda o culpa pela morte do fazendeiro, sendo que ele não tem culpa de nada. A culpa deveria cair sobre a moral tão estritamente seguida pelo pai. Essa inversão de valores, em que passamos a gostar do mau caráter e torcemos contra aqueles que seguem a moral, é alcançada de forma brilhante pelo filme, apesar de eu acreditar que essa não fosse a intenção dos produtores ou diretores. A cena final, em que Hud se torna proprietário da fazenda, mas acaba sozinho e sem família, é o final típico do malfeitor.

O filme é interessante porque nos ajuda a avaliar nosso próprio sentido de moral e do que é certo e errado. Além disso, mostra como uma criação rígida, admitida pelo próprio velho, pode influenciar uma pessoa a seguir uma direção extremamente oposta a ela. Hud não é um cara mau, apesar de seus óbvios desvios de caráter. Ele não é, como seu sobrinho bem aponta, nem melhor nem pior que todas as pessoas que ele conhece por ali.

quarta-feira, 10 de março de 2010

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001)

O Fabuloso Destino de Amélie Poulain é um filme realmente fabuloso. Contado através de uma atmosfera colorida e cartunística, a obra é uma pérola do cinema francês. Amélie é uma menina criada fora do contato de outras crianças, pois seu pai acredita que ela tem um problema cardíaco. O mal entendido, no entanto, é que seu coração bate mais forte quando o pai a examina, por ser um dos poucos momentos em que ele se aproxima dela. Assim, ela cresce para ser uma mulher tímida, retraída e extremamente doce. Seu mundo é abalado quando ela encontra uma caixa em seu banheiro, fazendo com que ela passe a interferir nas vidas de todos que conhece, mudando-as para melhor. No processo, ela conhece um homem, pelo qual se apaixona e com quem vive uma história de amor no mínimo bizarra.
A beleza do filme reside no cenário e na fotografia, além de algumas cenas divertidíssimas, como a do passeio do anão de jardim por diversos países. Audrey Tautou encanta por sua simplicidade na interpretação de Amélie. O filme também trata superficialmente da questão do destino e do amor perfeito, sendo que Amélie e seu estranho pretendente parecem ser realmente feitos um para o outro. Também não é deixada de lado a questão do sexo, mas ele não tem uma posição central na obra, já que Amélie já havia experimentado e se decepcionado e o relacionamento intensamente sexual de sua amiga com seu perturbado namorado também não parece dar certo.
Repleto de momentos maravilhosos e muito humor, O Fabuloso Destino de Amélie Poulain deixa a impressão final de ser uma fábula, tanto por sua estrutura quanto por seu final feliz e um tanto moralizante.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Cabaret (1972)

Muitos dos filmes musicais fogem da realidade, quando personagens começam a dançar e cantar no meio de algumas cenas. Cabaret escapa desse estereótipo, sem deixar de ser um musical. Há uma continuidade explícita na história, na qual os números de dança se encaixam de maneira primorosa, formando o musical mais bem-estruturado que já assisti.
O filme conta a história de Sally Bowles (Liza Minnelli), a cantora principal de um cabaré na Alemanha nazista, que sonha em se tornar uma atriz famosa e faz o que for preciso para alcançar seus objetivos. Como já é de se esperar, sua vida muda quando um inglês (Michael York), que dá aulas particulares da língua, passa a morar na mesma pensão que ela. Vindo de três relacionamentos ruins, ele se apaixona lentamente por Sally e os dois começam a dormir juntos. Tudo está bem, até que um rico barão começa a cortejar Sally e a comprar-lhe coisas caras, forçando-a a decidir se prefere seguir seu sonho de alcançar o estrelato ou viver um grande amor.
A força da história se encontra na atuação brilhante de Liza Minnelli, premiada com o Oscar, além de sua voz incrível, números musicais estonteantemente reais e belíssimas canções. O coadjuvante, mas não menos brilhante Joel Grey, também está perfeitamente sinistro como o apresentador do cabaré. A produção também mostra, de maneira sutil, alguns acontecimentos do nazismo, como o espancamento de um opositor do partido, a comoção popular com uma música cantada por membros do regime nazista e o casamento de um amigo de Sally com uma judia,  além de ataques feitos a ela. O que também impressiona é a perfeição da edição do filme, que transforma as junções de cenas, cortes e intervenções musicais em uma imperdível melodia.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Jejum de Amor (1940)

Jejum de amor é uma comédia cínica, maldosa e ultrajante, mas nem por isso menos hilária.Walter (Cary Grant) é o sarcástico e charmoso editor do jornal Morning Post, que, ao saber que sua ex-esposa Hildy Johnson (Rosalind Rusell) vai se casar novamente, arma diversas armadilhas para que o casamento com seu inexpressivo pretendente (Ralph Bellamy) não aconteça. Acontece que Hildy também é a melhor jornalista do Post e Walter tem certeza que ela não resistirá há um último grande furo de reportagem.
Repleto de clichês jornalísticos e humor negro em alguns momentos, o filme chega até a fazer piada de si mesmo, quando Walter descreve o noivo de Hildy como "um homem parecido com o Bellamy", que é na realidade o próprio ator que o interpreta. Além de uma comédia romântica, o filme tece uma inteligente crítica à corrida desenfreada pelo furo jornalístico, sendo que muitas das notícias dadas chegam a ser inventadas. Além disso, mostra como o jornalista, apesar das más condições de trabalho e baixo salário, não consegue facilmente largar a tensão e emoção da profissão.
Baseado em uma peça de Ben Hecht e Charles MacArthur, o filme ultrapassa a história original, com uma mudança simples porém expressiva no roteiro: transformar o antes jornalista homem Hildy Johnson em uma mulher. Essa simples diferença dá início a uma das melhores comédias românticas existentes.

Educação (2009)


Esse é, talvez, um dos indicados mais inesperados ao Oscar. O filme conta a história de Jenny (Carey Mulligan), uma menina que está entediada com a alta quantidade de estudos de que tem que dar conta para entrar em Oxford e satisfazer seu pai (Alfred Molina). E é aí que entra David (Peter Saarsgard), um polido e charmoso vigarista de 35 anos, que não deixa de mostrar seu lado sujo em alguns momentos. David conquista os pais da moça, apesar de serem rigorosos, e a pede em casamento, fazendo com que Jenny largue a escola e deixe de fazer a prova para Oxford. Fascinada com o novo mundo de glamour que lhe é apresentado, a garota acaba tendo uma surpresa desagradável. A história do filme é muito interessante e as atuações acontecem na medida certa. Destaque para a atuação da jovem Carey Mulligan, que surpreende no papel da confusa e encantadora Jenny.
Baseada na história verídica da jornalista Lynn Barber, a produção é muito boa e merece estar entre os melhores do ano. Preste atenção no rumo que a história toma e veja se não há uma mensagem muito implícita: Nem sempre conseguimos o que queremos, mas, se nos esforçarmos, alcançamos aquilo que podemos.

O Segredo das Joias (1950)


Uma grande maioria de filmes sobre roubo dá grande ênfase ao roubo em si e à sua preparação. Este filme noir da metade do século passado, dirigido por John Huston, é uma das poucas exceções, pois enfatiza os acontecimentos posteriores a ele.
Quando um gênio do crime, chamado de doutor Reidenschneider, sai da prisão após sete anos de confinamento, já tem um plano preparado para roubar joias de uma joalheria, no valor de meio milhão de dólares. Apesar de o roubo ser bem sucedido, um pequeno erro inicial acaba desencadeando uma sequência de acontecimentos que termina por punir todos os envolvidos no roubo. Os defeitos morais de cada comparsa, traições e o acaso são essenciais para que cada um deles morra ou termine atrás das grades em uma espécie de grande efeito dominó. O filme é quase um tratado sobre a justiça e mesmo uma lógica inabalável do acaso. O único que parece notar essa justiça da vida é o doutor, que, em sua última aparição, descobre que só foi preso por ter ficado um tempo a mais em um bar apreciando a beleza de uma jovem.
O filme é extremamente recomendável por se destacar de outras produções do gênero, além de ser uma das primeiras aparições de Marilyn Monroe em um papel de maior destaque, como a estúpida amante do financiador do crime

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Oscar 2010: Melhor Filme

Indicados:
  • Guerra ao Terror (The Hurt Locker)
  • Avatar
  • Amor sem Escalas (Up in the Air)
  • Distrito 9 (District 9)
  • Preciosa (Precious: Based on the novel "Push" by Sapphire)
  • Educação (An Education)
  • Up - Altas Aventuras (Up)
  • Bastardos Inglórios (Inglourious Basterds)
  • Um Homem Sério (A Serious Man)
  • Um Sonho Possível (The Blind Side)
Favorito:

Guerra ao Terror, apesar de ser o favorito, não me convenceu tanto assim. Confesso que esperava mais do roteiro, que também achei um pouco limitado. Nem a história nem o final supostamente surpreendente chegaram a me fascinar. Não sou realmente um grande fã de filmes de guerra, mas sei reconhecer quando um deles é bom. Guerra ao Terror é apenas razoável para mim, ficando atrás de muitas outras produções do gênero, mais grandiosas e melhores.





Meu Favorito:
Eu devo admitir que Amor sem Escalas realmente me surpreendeu. Para começar, acredito que esse seja o melhor roteiro do ano. A forma como o filme trata da modernização das demissões, com uma empresa contratada apenas para demitir os empregados, é fantástica. As atuações estão discretas, mas também maravilhosas. Tanto Clooney, no papel do homem solitário que adora seu emprego por não ter que ficar em casa,  quanto Vera Farmiga como sua bondosa e sedutora amante e Anna Kendrick como a novata ansiosa e um tanto desastrada estão praticamente perfeitos em seus papéis. O filme tem passagens memoráveis e conta com depoimentos verdadeiros de pessoas que passaram pela angústia de ser demitidos já em uma idade mais avançada.
Os dois filmes favoritos ao Oscar não me surpreenderam o bastante para que os considerasse os melhores do ano. Avatar, é claro, tem os efeitos especiais mais surpreendentes que eu já vi, mas também tem um roteiro muito simples e, na realidade, não passa de uma diversão de nível mediano. Acredito que o 3-D foi um dos principais responsáveis pela fascinação com essa produção.  Outros dos concorrentes que considero de peso nessa disputa são Preciosa, que é um filme maravilhoso, com interpretações muito comoventes, e Bastardos Inglórios, que também tem grandes chances de levar o prêmio de Melhor Roteiro, além de Melhor Ator Coadjuvante para o excelente Cristoph Waltz. Apesar de minha opinião divergente, acredito que a estatueta ficará mesmo com Guerra ao Terror.

Oscar 2010: Davi x Golias

Segundo o ditado popular, em briga de marido e mulher não se mete a colher. Na mais recente briga do Oscar, no entanto, é justamente a colherada do júri que vai decidir o vencedor do embate. Em uma das premiações mais emocionantes dos últimos tempos, os filmes com mais indicações (9 para cada um) são Guerra ao Terror, dirigido por Kathryn Bigelow e a superprodução Avatar, com direção de James Cameron.
O mais interessante, no entanto, não é apenas o fato de James e Kathryn terem sido casados, mas sim as diferenças que existem entre as produções. Ambos os filmes falam sobre guerra, embora Guerra ao Terror mostre a guerra do Iraque e Avatar uma guerra entre humanos e alienígenas. Enquanto Avatar é o filme mais caro já produzido e traz novas técnicas que podem revolucionar o mercado da animação, Guerra ao Terror é uma produção quase independente e que não obteve uma bilheteria tão considerável, apesar de ser um sucesso de crítica. Com Avatar, James Cameron quebrou seu próprio recorde de bilheteria, que era de Titanic. Já Kathryn nunca dirigiu filmes tão expressivos e essa é sua primeira indicação ao prêmio.
Mesmo assim, Guerra ao Terror tem se mostrado o favorito ao prêmio de Melhor Filme. O filme venceu o prêmio do Sindicato dos Roteiristas, dos Diretores e dos Produtores, além de ser considerado pela maioria dos críticos como o melhor filme do ano. Avatar passou a sua frente apenas na premiação do Globo de Ouro, que ultimamente não tem sido um termômetro tão bom para o Oscar. Nos últimos anos, os jurados têm optado por filmes mais independentes e deixado de lado as grandes produções. Resta saber quem vai levar a mais cobiçada estatueta do cinema nessa verdadeira luta de Davi e Golias.