O balé é uma forma de arte pouco difundida hoje em dia, principalmente no Brasil. Eu não conheço ninguém que já tenha ido assistir a um espetáculo de balé ou que tivesse interesse em ir. O mais novo filme de Darren Aronofsky, Black Swan, mostra o que estamos perdendo. A leveza de movimentos, a rapidez, a beleza plástica da dança. Só que o filme se preocupa muito mais com um outro aspecto pouco conhecido dessa arte. O lado negro do balé e da humanidade, que mostra ser muito mais instigante que qualquer outra coisa.
Nina (Natalie Portman) é uma bailarina que é escolhida pela primeira vez para viver a personagem mais importante em uma releitura do balé O Lago dos Cisnes. O problema é que sua aparente pureza e inocência são excelentes para interpretar o cisne branco, mas pouco ajudam na hora de encarnar o cisne negro do título. Em sua luta para alcançar a perfeição no espetáculo, ela procura se reconciliar com seu lado sombrio e acaba vivendo a história d'O Lago dos Cisnes na própria pele.
Os eventos do filme são fechados e íntimos, assim como os cenários e a protagonista Nina. Há uma cena em que ela entra pela primeira vez em contato com alguém que não tem nada a ver com balé, um rapaz que conhece na balada. Quando ele declara não gostar de balé e não conhecer O Lago dos Cisnes, Nina e sua companheira ficam indignadas. É compreensível. Isso é pura e simplesmente a vida delas.
Eu segui os distúrbios e problemas de Nina com bastante interesse e até acreditei neles até mais ou menos a metade do filme, quando a produção revela que aquilo que estamos vendo não é necessariamente a realidade, e sim a verdade da protagonista. A isso se seguem belas e fortes cenas de paranoica fantasia, que explodem em um clímax onde Nina alcança a perfeição como o cisne negro (mas a que preço!).
O universo do filme é estritamente feminino. As figuras masculinas (notadamente o instrutor de balé, vivido por Vincent Cassel) são invasoras, eróticas e atraentes, para compensar a palidez e o abatimento de Nina. Uma outra bailarina, Lily (Mila Kunis), também exerce um estranho fascínio sobre ela, o fascínio do proibido, do absurdo.
Nina é sexualmente reprimida não só por sua mãe rigorosa e superprotetora, mas principalmente por si mesma. Portman teve que aprender muitos passos de balé para este papel, mas sua principal contribuição é a profundidade emocional que dá para sua personagem dentro e fora das cenas de dança. O destaque vai para uma cena de masturbação em seu quarto, em que ela se revolve na cama, gemendo e liberando seus instintos sexuais aprisionados não se sabe há quanto tempo. Ela faz isso porque seu instrutor mandou que fizesse, por sua incontrolável submissão e, ao mesmo tempo, pelo seu desejo de ser perfeita.
Por um momento, eu achei que não saber quais os problemas sofridos por Nina seria um empecilho para o filme, mas o final demonstrou que eu estava errado. Apesar da falta de elementos explicativos em algumas partes da narrativa, a produção exala uma incrível atmosfera de completude e deslumbramento.
Este não é um grande filme. É um filme muito bom. A diferença é pequena e reside em ínfimos detalhes. Eu não consigo imaginar, por exemplo, que ele será lembrado daqui a alguns anos. Assisti-lo é uma experiência diferente e às vezes chocante. Mas faltam elementos que fazem d'A Rede Social, por exemplo, um grande filme. É difícil explicar, mas, quando você assiste as duas produções, se torna fácil entender. Black Swan está muito mais próximo de uma obra de arte que qualquer outro filme lançado este ano, mas, ainda assim, não é uma obra perfeita em si mesma.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário