segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A Rede Social (2010)

O badalado A Rede Social, de David Fincher, começa com um diálogo entre Mark Zuckerberg (o criador do Facebook) e sua então namorada. É bem possível que a maior parte da conversa soe incompreensível para a grande maioria do público. Mark fala de forma extremamente rápida e salta sem aviso de um assunto para o outro. Mesmo sua namorada não faz ideia do que ele está falando. Entretanto, isso não importa, pois a conversa estabelece três pontos cruciais para a história: a) Zuckerberg é um gênio que gabaritou o teste para entrar na universidade, b) Ele não tem experiência alguma com namoros ou relações pessoais de todos os tipos e se mostra extremamente egocêntrico e c) É muito sensível quanto ao seu status de nerd e tem problemas com mulheres devido a ele. Não me lembro de outra vez em que a chave de um filme estivesse tão flagrantemente em sua primeira cena.


Também é bom lembrar que o filme não lida com o Zuckerberg da vida real. Ele trabalha com um livro sobre o criador do Facebook e, por isso, é praticamente uma adaptação de uma adaptação. O próprio Mark revelou algumas discrepâncias fundamentais para o roteiro, como o fato de ele ter tido uma namorada fixa durante todo o período de construção do site.

O filme é contado de forma rápida e também muitas vezes incompreensível, mas, assim como na primeira cena, nós entendemos aquilo que precisamos entender. Poderia se dizer que é quase tão dinâmico e intuitivo quanto a própria internet. Se logo no começo temos a explicação de praticamente tudo o que está para acontecer, no fim, temos uma síntese de todo o filme em apenas duas frases. Não, Mark não é um babaca. Nós podemos ver seu sofrimento com o isolamento e a incompreensão em relação aos outros. Mas Mark faz de ser um babaca seu principal objetivo na vida. E, de forma ainda mais interessante, ele parece querer provar que é um cara legal sendo cada vez mais babaca.

Ele não quer dinheiro, mas espera conseguir respeito por ser famoso e por ter criado algo em que ninguém jamais havia pensado antes. Apesar das inconsistências de seu caráter, é um personagem com quem é fácil se identificar e seus conflitos internos são extremamente humanos e palpáveis.

A narrativa se divide entre reuniões dos processos movidos contra Mark (por colegas de Harvard que, direta ou indiretamente, o ajudaram a ter a ideia do Facebook e a realizá-la) e suas lembranças dos acontecimentos que o levaram até ali. Apesar de ser um recurso bastante utilizado no cinema, dificilmente acontece com este grau de completude, em que o passado acrescenta tanto para o presente quanto o presente adiciona ao passado.

De forma estranha, a cena mais interessante e autoral do filme não tem nada a ver com a internet (pelo menos não diretamente). Fincher conseguiu transformar uma corrida de remos, algo essencialmente maçante, em um esporte dinâmico e veloz, através de cortes rápidos de cena e (pasmem) música clássica. Nesse momento, mais do que em todo o restante do filme, Fincher demonstra a sua habilidade como diretor.

Seu estilo já havia sido testado em produções anteriores notórias, entre elas Clube da Luta e Se7en. Porém, somente em A Rede Social ele consegue incorporar totalmente sua direção rápida e abrupta com um filme de grande qualidade e, por que não dizer, também altamente dramático.

Conhecido por finais surpreendentes, Fincher aqui consegue surpreender o telespectador com algo que ele muito possivelmente já sabia. Nada de reviravoltas como em Clube da Luta. Todo o filme, assim como a ascensão de Mark, é construído com base em uma ideia principal, que se desenrola pouco a pouco em seu decorrer: Qual a motivação para ele fazer tudo aquilo. Não é por dinheiro, ele também não quer fazer amigos, não quer transar e não quer ser reconhecido como um gênio. Afinal, que diabos ele deseja? É isso que, ao final da produção, todos já têm ideia e a última cena confirma de forma genial.

Trata-se de um filme inteligente, com uma produção impecável, bela fotografia e apoiado em ótimas atuações do jovem elenco. As cenas são conduzidas de forma diversificada e bastante fora do usual. Não peca por favorecer demais uma característica só (como A Origem, um filme esperto demais para seu próprio bem). Enfim, uma produção moderna  em todo o sentido da palavra e digna do Oscar de melhor filme de 2010, o que, se depender da reação dos críticos, tem grandes chances de acontecer.

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