Em tempos de discussão sobre os direitos dos homossexuais e de algumas vergonhosas demonstrações de violência e incompreensão, nada poderia ser mais bem vindo do que um filme como este. Um filme que não discute a discriminação e o preconceito e, na verdade, nem leva isso em consideração. The kids are all right (com o distante título Minhas mães e meu pai no Brasil) é uma bela produção, que faz com que situações estranhas pareçam absolutamente naturais e verdadeiras.
O filme conta a história de uma família que, à primeira vista, parece perfeita. Nic (Annete Benning) é o "pai" autoritário, que trabalha para pagar as contas, procura tomar conta de todos e comanda os filhos e a esposa com mãos de ferro. Jules (Julianne Moore) é a esposa insegura, sensível e meio louca. Os filhos são tratados como a representação das duas mães na forma de pensar e agir. Joni (Mia Wasikowska) também é sensível e ligeiramente reprimida e funciona como um espelho de Jules (o nome das duas também é bastante sugestivo). Laser (Josh Hutcherson) é bastante prático e desligado, com uma personalidade próxima da de Nic. Ele não parece incomodado por ser o único homem da família. Na verdade, ele não parece incomodado com nada.
Tudo está bem, até que Laser decide procurar seu pai biológico (o mesmo também de Joni). Seu primeiro encontro é tão natural, tão embaraçado e interessante, que eu seguramente definiria como a melhor cena do filme. Paul (Mark Ruffalo), o pai bonachão e cheio de si, é simpático e estranhamente atraente para todos, exceto Nic, que sente que ele está roubando sua família (o que acaba sendo parcialmente verdadeiro).
O filme fala, principalmente, sobre conflitos familiares, que são descobertos conforme Paul se envolve cada vez mais em suas vidas. Isso e a capacidade do amor de superar problemas e obstáculos. A unidade familiar é retratada como muito mais importante que qualquer elemento externo. É quase impossível não gostar de Paul, um cara sinceramente simpático e que inocentemente se envolve com cada membro da família. Mas no final, somos obrigados a reconhecer que eles são muito mais importantes para Paul do que Paul para eles. Paul é apenas um divertimento, uma pequena aventura, que todos não hesitam em abandonar.
Com momentos engraçados e dramáticos, este filme pode soar extremamente água com açúcar às vezes, mas de uma forma muito natural. É uma indicação certa para o Oscar e está entre as produções mais encantadoras do ano. Proporciona um entretenimento muito bom e traz uma mensagem positiva, embora não exatamente definida.
Eu, pessoalmente, recomendo que o filme seja assistido sem muitas expectativas em cima de uma história de homossexuais vencendo obstáculos. Se Nic fosse vivido por um homem, a diferença não seria tão grande para o roteiro. É nesse tratamento dado à história pela diretora Lisa Cholodenko (ela também homossexual), na verdade, que reside o poder da produção.